domingo, 20 de setembro de 2015

avenida são paulo

(para Mara de Aquino)          


nessa resistência
em não escrever poema de amor
se há experiência vazia
há folhas sempre em branco
tão quão o pensamento
que me remete angustiado
esperançoso
para essa segunda feira.
avenida são paulo é uma fase
mesmo que escravo alforro
fecha os olhos  para a porta da senzala
aberta
mãe neguinha arrasta
mesmo estando distante, arrasta
dimensões não rompem o cordão
isauro clausurado a qualquer hora abre os olhos
Deus existe onde o sol não descansa
imaculado o chão
imaculado o chão
imaculado o chão
senhor de toda essa saudade.
avenida são paulo, teu rabo é sujo
avenida são paulo é fase
avenida são paulo é de fases
avenida são paulo já passou
avenida são paulo sempre cheia vai morrer sozinha
avenida são paulo não existe
avenida são paulo são pernas abertas,
onde todos entram e ninguém fica
avenida são paulo come todos
mas quem come não sente saudades.
ficam dois corações
um volta para o sol
arrebentado

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

vago

dizem que no coração da gente
cabe tudo.
é verdade!
cabe até o vazio
que não cabe no universo

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

justificativa



eu sou desses que não acerta
que não conserta
que não tem conserto
se miro – erro
se não miro – erro do mesmo jeito
tiro no escuro é o certo tiro no pé.
não acredito em mitos
porra, nasci num mês de agosto
vai ser sortudo assim lá na bomfim
nasci do lado, parede com um puteiro
enquanto a maioria das crianças ouvia
“nana neném, que a cuca vai pegar...”
eu não, comigo era menos suave
“mais... mais... para não/para não... haaaaa”
como alguém pode esperar que eu seja santo?
nem num hospital tive o privilégio de nascer
dona tereza me pariu em casa
no último degrau de uma escada

que parecia não ter fim
minha vida seguiu assim, sem rima
ladeira para ir,
ladeira para vir
olha, desisto
é crueldade demais alguém ainda desejar
que eu seja normal