quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

23h:59m

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revelação

[para tereza seiblitz]

uma borboleta ainda a pouco
pousou em meu ombro esquerdo
ficou lá por dois segundos,
alguns dirão; pouco tempo
tempo suficiente para me dizer
você precisa voar tereza

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

ingenuidade

eu sou quase assim,
romântico
só um pouco mais vagabundo
quero estar escrito no seu olhar
inserido em sua pele negra
e criança sem infância que sou
de nulas lembranças
brincar nestas curvas e vulva
percurso de 1.60
hoje, seus cabelos me conduzem

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

frente a casa onde você nunca morou

(para márcia regina flor)

nesse nosso cinema mudo
eu falando português, você alemão
passei hoje próximo a sua casa
não te vi debruçada sobre a janela
me esqueci. você mora na alemanha
enquanto, do lado de cá
me perco de mim mesmo.
é claro que eu te busco por aqui
em outros rostos, em outros corpos
em outras vozes mesmo que agudas
saudade dessa sua voz rouca.
saudade desse seu corpo grande
sobre o meu. o meu encanto
eu suspirando ouvindo tim maia
me esperançando naquela esquina
onde ainda não nos encontramos.
posso te esperar lá, amanhã, às 22 horas?
pena que a alemanha fica tão longe
pena que você não fala português
que eu não fale alemão
ficamos assim então;
ouvimos tim maia, entrelaçadas as mãos

domingo, 24 de fevereiro de 2019

o calabouço

(para marília martins)


o teatro tatuado na sola do pé
primeiro me fez correr, não era medo
meu deus, não era medo
é que não me dizia nada
ela achando que aquilo dizia tudo
sem solução. sim? não?
cabe tudo numa mão em concha
tudo que havia dentro dela.
havia um grito na esquina, ela surda
havia um grito na esquina, ela surda
nenhuma cama era muito. ou pouco
era nada
a tatuagem em sua sola não dizia nada
simples assim. como sua alma
ou sua cara de desdém na feira da madrugada
foi testemunhado na placa da esquina
“ali ninguém se completa
em seus olhos, umbigo
em seus seios, umbigo
em sua bunda quadrada, umbigo
em sua vagina seca, umbigo
nas palmas de suas mãos, umbigo”
tem uma cobra no meu telhado.
os seus cabelos não me levarão a lugar nenhum

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

inquietudes e outras porras

(para idalécio ferreira)


para os cigarros que não fumei
para as transas que não aconteceram
para as alucinações alcoólicas
e os seus comas
que nunca me acompanharam
01 primeiro poema por um vinho
poderia ser as transas, ou as tramas
ou as moças nuas nessa cama
mas não/ tinha que ser o vinho
bukowski era o gozo feminino
o efeito do porre antes,
durante e depois dos poemas
(já sinto o rosto queimando)
eu/bukouski, em comum
frye’s
nenhum outro tema
frye’s frye’s frye’s
ou o 5º dos infernus?
01 outro copo de vinho
(já vejo a minha cara vermelha)
01 drinque a morte da bezerra
e choro. e choro. e choro
bukowski – um ex pau duro
01 lenço ao lado, sujo
(vejo o meu irmão gêmeo no espelho)
não estou em são paulo
estou nesse poema de paraquedas
para falar de bukowski
já que não me resta mais vinho
nem tabaco, nem bocetas
(já sinto o corpo tremer – não é gozo)
pena

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

parapeito

deixa eu te falar,
estou aqui, rente a janela
segundo andar, olhando o céu
estranhamente não vejo estrelas
também não vejo nuvens
calçado com os velhos chinelos
de couro, franciscanas, tomando café
num velho copo de plástico amarelo
ouvindo tim maia, sozinho.
deixa eu te falar,
sem sina, sem rumo
prumo é o que me queria tereza
sem chance... sem chances
e os sonhos nas mãos em concha?
sem estrela cadente nesse céu pelado
nem a merda de um pedido iludido
nem a garrafa de um vinho vagabundo.
deixa eu te falar, não sei quem é você
não sei onde você está. se existe
não sei porque esse tempo perdido
não lhe escrevo mais nada
se o meu grito é para ninguém