quarta-feira, 27 de março de 2019

temperatura


carta para os meus amores

(para maíni, ana clara, ana victória, ana flor, ítalo e luã


neste dia de terça feira, numa cidade de mato grosso e sombras longas, sem saber que horas são e que horas serão amanhã quando eu acordar, meus olhos tristes choram de tristeza por não ter vocês diante eles enquanto os meus lábios e rosto querem beijar e sentir os teus beijos. meus amores que me fazem imortais, isso acontece todos os dias e noites. é claro que eu os amo. é claro que eu os quero e, enquanto não estou com vocês ao meu lado, carrego vocês em meus olhos e em meu coração enquanto a minha alma está cheia do cheiro e das suas presenças. eu estou distante meus amores mas não me sintam ausente mesmo que eu tenha me perdido no tempo. quero demais poder beijar vocês todos os dias. e beijo. e beijei hoje enquanto por quase duas horas me deitei embaixo de uma gameleira. a sombra era imensa e parece que queria competir em tamanho com a minha saudade de vocês. beijei muito. beijei minhas moças-flores lindas e meus moços-doces lindos. em cada beijo que lhes dava, eu ensaiava um pedido de perdão, personalizado, a cada um de vocês. personalizado porque com cada um eu falhei num momento e numa situação. amores, falhei também nesse ensaio sobre a sombra da gameleira pois meus medos, receios e fantasmas ainda me vencem. por hora. 
amores, eu ainda não desisti. não desisti dos seus beijos, dos seus abraços e dos seus carinhos. ainda não desisti de encontra-los e em completude, ama-los. ainda não desisti de crescer por dentro mesmo que os janeiros, as lutas e as decepções me desmotivem. a gameleira me deu sombra por quase duas horas e, momento de releituras, tive vergonha de ser eu. não que eu seja mal ou ruim. não que eu seja um caso perdido ou desesperançado. não que eu não seja capaz disso e daquilo. tive vergonha de ser eu quanto ausente em suas vidas e ciente, de tanto amor, não ter materializado tantos momentos que sempre desejei para nós. é claro que eu os amo. e amo demais. amo grande, imenso, completo... mesmo eu estando vazio. por hora. meus amores, tem um homem aqui que dia e noite trava suas lutas internas, vence alguns fantasmas e para amanhã muitas lutas com outros e, ainda assim, pensa em vocês todos os santos dias de homem pecador e fraco. minha vida continua sendo escola e, um dia eu aprendo, passo de série e num outro dia, eu reprovo. continuo a amar vocês inteiramente mesmo nesses dias que eu reprovo. nova escola. nova turma. novas oportunidades. caminho assim meus amores, perdido entre minha alma e minha carne, sempre ansioso e medroso pelo amanhã, sabendo que ao acordar vocês não estarão nesse novo dia. 
o meu coração se divide todos os dias entre são paulo e montes claros. montes claros de maíni, ítalo, luã e ana clara. são paulo de ana flor e ana victória. 
entre essas minhas lutas e sonhos, ouso pedir a deus para que vocês se encontrem, se amem e se completem. sem medo ou mágoas, se chamem de irmãos. porque vocês são irmãos, sempre serão mesmo que alguém possam lhes soprar que não. vocês são irmãos e todos concebidos no que existe de mais divino no amor, no querer. 
amores, amanhã ao acordar eu irei antes de tudo, me lembrar de vocês. dos seus nomes, dos seus rostos, da suas luzes e dos seus lábios. me lembrarei das suas peles e das suas mãos em meu rosto. mesmo que eu não acorde, me lembrarei. sempre. aqui ou lá. 
meus amores. 

papai

domingo, 24 de março de 2019

com esses pés algema nenhuma me prende. corda nenhuma me amarra. veneno nenhum me consome. olhar nenhum me derruba. escravidão nenhuma me toma. para esses pés só há tempo para descobrir, inventar, prosseguir e renovar. esqueci. não são pés. são recomeços


domingo, 17 de março de 2019

esse tempo para escrever

em noites em que não estou contigo
em dias que não lhe tenho
continuo a escrever
quando muitos já teriam desistido.
qualquer papel em branco
traz a mim todo o seu perfume
a sua pele e o seu gosto.
sem premeditar, um poema surge.
vazio apenas quando caneta ou lápis
não se encontra em minha mão.
escrevo e,
sinto o meu nariz, língua e lábios
entre os seus seios
seus mamilos a me roçar o rosto
ou a brincar entre os meus dentes.
caneta e papel qualquer, fértil
oportunidade de fazer amor,
de novo, contigo.
oportunidade de ter o seu sexo
devorando o meu sexo.
quando e enquanto escrevo
não estou só. não sinto frio
a saudade cede lugar para a sua presença.
egoísta sim e tranquilo pois,
quando escrevo tenho você para mim
só para mim, de novo.
enquanto escrevo olho o espelho
vejo a sua cara feliz e assustada
com esse poeta tarado
por você. e apenas por você.
enquanto escrevo,
desenho os momentos que vivemos
os momentos que não tivemos.
desenho você pela eternidade ao meu lado.
enquanto a caneta é o par do papel
não sou o seu herói. somos o par
entre o divino e o profano.
meu amor, é por isso que escrevo

terça-feira, 12 de março de 2019

a curva

para lúcia barbosa


retas nunca me excitam, seja na vida ou em rodovias. retas me remetem as mesmice e logo meus olhos cansam e pouca coisa descubro ou aprendo. tenho por curvas o carinho que tinha pelas professoras do primário, quando a mesmice nunca existia. as curvas são escolas. são professoras. o que vem depois da curva? depois da curva vem todas as oportunidades, todas as aprendizagens. depois da curva vem sorrisos, vem amigos, vem um novo filme num novo cinema. depois da curva vem aquela carta que o carteiro esqueceu perdida em sua sacola e não te entregou na data prevista mas que te faz um bem enorme receber e ler, mesmo depois de tantos dias corridos. depois da curva eu descubro uma nova samambaia e uma outra borboleta. depois da curva vem sempre um sol amarelo ou uma garoa que amansa as dores. depois da curva, se me canso, sento, olho o céu azul e outra possibilidade de me levantar surge com outras mãos me reerguendo. depois da curva tem sempre deus me esperando com aquele sorriso de orelha a orelha, generoso e gratuito que só ele tem. depois da curva descubro outras cores e outros tons de laranja que tão bem me faz. depois da curva sempre me renovo, pois descubro os meus fracos acontecidos pelas retas. depois da curva minha alma cresce, mesmo que as retas tenham sido nubladas e chorosas. depois das curvas, me torno um aluno melhor da vida. a curva não me assusta, não me amedronta e não me faz perder a fé. curvas são novos eus. mais bonito, mais inteiro e mais humano.