segunda-feira, 29 de abril de 2019

permanganato de potássio

para ana maria silva matias 

coração magoado não enfarta
quem mata é fome, acidente, doença
toda dor tem prazo para existir
fé se renova. esperança descansa
recordações duram um sol
guardamos quem nos fez bem
inteiramos em lábios, mãos, olhos
são almas que ficam nos retratos
dito isso; sempre venceremos o kaus.
coração revestido de aço
proteção contra os amores fracos

para simples

sou desses olhos insanos
que procura entre aqui e ali
inteiros
sou de quem não se contenta
de quem não fica no muro
sou das pontes
não de quem constrói muros
sou da puta que pariu
nunca da santa do pau oco
sou do curto e singelo
de quem luta contra o grosso
sou das minorias
de quem não é maioria
sou mesmo é de qualquer um
que não seja de todos
beibi, sou de copo sujo
nunca de missans & convenções
sou de quem de quem acredita
que 1 + 1 é sempre mais que dois
rani beibi, lembre-se, quando sair
deixe os seus cabelos espalhados

domingo, 28 de abril de 2019

the doors para a estrada

para gilder souza de moraes

em minha frente uma longa estrada
sem endereço qualquer me esperando
meu Deus, o que me espera do outro lado?
onde estão os ipês amarelos
sempre rentes a margem do caminho?
como caminhar? seguir sem ipês?
é verão. meu Deus [é verão]
seguir sem o amarelo do seus cachos?
não sobreviveu a paisagem verde
que via pela janela do meu carro
me acompanhando por todo o percurso
vejo nuvens espalhadas, sem formas
que não me lembram nada. meu Deus,
nem as nuvens sobreviveram
não contarei mais carneirinhos
declaro morto então, os sonhos
Deus, que história é essa de hoje
de estrada sem ipês amarelos?
Deus, eu não sou daltônico
Deus, tenho medo de viajar
sem ver os meus ipês amarelos
pode então por favor, repintar
essa estrada num outro tom bem quente?
eu quero de volta os meus ipês
em toda a margem do meu caminho
ou isso ou paro aqui, sento e choro
não sei sonhar sem o meu cavalo de pau
sem os meus ipês amarelos

terça-feira, 23 de abril de 2019

sonho placebo

então penso; onde estão os seus olhos agora?
sou aquele diabo travestido de guerra
até encontrar os seus olhos
eu sou raul g em constelação
um poema de mário q
o menino sentado sonhando tim m
também sou canção do humberto g
sou esse casulo de sete cores. me entenda
ou não conseguirei chegar aí. entenda
não sairei daqui morto. subentenda
ouça. ou tente. te levo rosas amarelas
me diga antes o seu nome
com você cantarei para as abelhas
dançarei para as borboletas
entre bailes, serei corpo junto aos beija-flores.
me entenda.
não há fim em minha caminhada
me entenda. não falo de delírio
chegar onde os seus olhos estão,
sonho placebo

domingo, 21 de abril de 2019

hoje

...ando tão a flor da pétala

LETARGIA LE|O|ZEIRA

faltando alguns minutos
para alguma hora qualquer
entre uma carreira que me tenta
e a vodka que me água a boca
resisto na imagem dos seus lábios
que desenho na névoa desse copo puro malte.
entre sua vagina e os seus cabelos
mistérios que me interessam
vem a sua alma que me completa.
menina dos meus olhos debaixo da roseira amarela
não é apenas a sua carne que me tesa
me completa mesmo, inteiro
fazendo desse maldito um menino
é essa sua boca suja e santa
que antes, durante e depois das trepadas
me diz as verdades mais certeiras.
soco no estômago
hora dói,
nessas metades, nesses inteiros
hoje e amanhãs
seus cabelos anelados me conduzem

cenário

ave procurando um céu azul

(para márcia flor)

quando a noite chega
algo floresce sem medo
qualquer canto é castelo
para se vencer vazios, tristezas...
no silêncio do céu noturno
existe todos os encantos

completude

é suficiente o seu olhar

para que a tristeza em mim

pule de alegria

as vezes nunca

as vezes não sinto saudade de casa. as vezes não sinto você me chamando de “preto”. as vezes não sinto o seu colo. as vezes não sinto o seu cheiro. as vezes não sinto o seu toque. as vezes não vejo os montes claros. as vezes esqueço o caminho. as vezes o seu rosto me foge dos olhos. as vezes não me lembro do banco da praça. as vezes me esqueço da sua canção de ninar. as vezes me esqueço da sua canção de me ninar menino grande. as vezes me esqueço daquele beijo na minha chegada. as vezes me esqueço daquele beijo na minha saída. as vezes me esqueço dos seus sermões. as vezes me esqueço de quando enterrei uma. as vezes me esqueço de quando enterrei a outra. as vezes esqueço o meu luto. as vezes esqueço o meu próprio velório. as vezes me esqueço do nosso prato preferido. as vezes me esqueço da nossa canção preferida. as vezes me esqueço do nosso poema perfeito. as vezes esqueço as ruas que andamos de mãos dadas. as vezes me esqueço das casas que moramos, alugadas. as vezes me esqueço da única vez que você me chamou de papai. as vezes me esqueço das vezes que me chamou de meu filho. as vezes me esqueço do seu sorriso banguela. as vezes me esqueço do outro sorriso banguela. as vezes esqueço do nosso choro compartilhado. as vezes me esqueço dos nossos natais. as vezes me esqueço dos seus aniversários. as vezes me esqueço do dia das mães. as vezes me esqueço do dia dos pais que não celebramos. as vezes me esqueço de eu criança doente e você sem dormir me cuidando. as vezes eu me esqueço das suas lágrimas me ensinando. as vezes não choro.
as vezes eu esqueço de carregar um lenço.
as vezes eu tenho que interromper um poema.

(para mavot sirc)

gosto de tudo que me inquieta
da moça sem papas na língua
que me questiona sempre que vacilo
gosto de gente assim;
insatisfeita com os arredores.
gosto de gente que não se contenta;
com o umbigo
com a maioria
com tudo que não soma.
gosto de gente assim;
bebo todas ou não bebo nada
nunca se acovarda e sobre o muro
se esconde no “bebo socialmente”.
gosto de gente que come quando gosta.
gosto de gente inteira
metade é coisa do capeta.
gosto de gente que,
olhando para ele e antes de me falar
já ouço um “vai pra puta que pariu”.
gosto de gente que me come, me devora
nunca de gente que me suporta
me estupra, me abraça e vai embora.
gosto de quem me solavanca e,
em seguida me beija.
não gosto de quem me beija e em seguida,
me espanca.
gosto de gente oito ou oitenta

à saber

Nenhuma descrição de foto disponível.

sincericídio

para augusto cesar gonzaga


navalha na carne não dói
não incomoda. não deixa cicatriz
meu pulso esquerdo é prova disso.
incômodo é navalha na alma
faxina de dentro para fora
dor mesmo é olhar para trás
sentir vontade de trocar
dedicatórias de alguns poemas.
fraqueza não está para álcool,
psicotrópicos
fraqueza está no abstêmio
escrever para quem não lê
cantar para quem não senti
sonhar com quem não olha
para o céu
desejar quem renega a alma.
a mensagem reflete a pessoa
leio, guardo
ou arquivo na próxima lata de lixo
pérolas são pérolas
porcos são porcos
se não faz oinc,
fuja.
o arco-íris não é pote de ouro
só é alma quem enxerga nele
poemas

coragem


pétala


pão