sábado, 8 de agosto de 2009

matinê, ibiscos e parangolivro

[para dayvson fabiano]


é meu irmão
hoje é sexta feira que não é 13
e nem proseamos caminhando pela rua dr. santos
não estou em montes claros
não estou em são paulo
e em nenhum canto de guarulhos.
eu não vi nenhuma estrela cadente
nenhum pedido atendido
todos os olhares perdidos
meu poema sujo se perde
nas mesmices desses dias.
meus outros filhos estão longe
aninha, mesmo tossindo
dorme docemente.
não fui ao encontro
não ouvi nenhum blues
não li nenhum livro
não troquei nenhuma figurinha.
burro velho que não aprende
minha cabeça mais zonza
que os toscos desse canto
é meu irmão
tudo louco
como o clima dessa cidade louca
de pessoas pouco humanas
cheias de sorrisos frios
e a moça que olhou pro céu [diabos também olham pro céu]
quando perguntei onde era o poupa tempo
que fila
não tirei a carteira de trabalho
porque esta não ficou em goiânia
mas segunda branca a saga continua
não estou em montes claros
não estou em são paulo
e em nenhum canto de guarulhos.
mesmo com medo, quantas moças bonitas meu irmão
moças ao agrado de todos os tipos de necrófilos
enquanto como mineirinho que sou
ainda aguardo minha moça nordestina nascida em são paulo.
hoje não ouvi 1 blues.
pensei em você esta tarde meu irmão
e seu sotaque em meu ouvido
afastou meu medo dos zumbis.
meu irmão, quando nos encontrarmos em moc*
[*montes claros]
entre prosas e café
além de nossas meninas
além de nossos morros
e da morte anunciada da bezerra
vamos falar de darcy e do clube da equina
derrepente a gente esquematiza um sarau
e o wander nosso anfitrião, liga e organiza a roda, a prosa e o violão.
não estou em montes claros
não estou em são paulo
e em nenhum canto de guarulhos.
meu irmão, eu não tive irmãos
mas tenho amigos ricos como o cerrado.
não estou em montes claros
não estou em são paulo
e em nenhum canto de guarulhos.
não fui ao cinema
não assisti e o vento levou
mas jurei nunca mais escrever poesias de guerra.
sorte minha que juras de poetas vale tanto quanto nota de 3,00
esta semana ainda não matei ninguém
estou piedoso
mesmo com os merdinhas
que escutam funk e pagode.
não estou em montes claros
não estou em são paulo
e em nenhum canto de guarulhos.
meu irmão
ainda não tirei meu passaporte
ainda não fui pra áfrica
não conheci manaus
e pior, não matei o presidente.
quando estivermos caminhando pela rua dr. veloso
vamos desafinar num som do tim e do beto guedes.
meu irmão
diga ao wander que estou a 2 meses
sem rivotril ou bromazepam
mas so não me garanto pelo dia de amanhã
amanhã será sábado de lua cheia
e nesse giro da lua
os loucos saem de suas clausuras
e soltam as máscaras com o abono do gardenal
lobos uivam pra lua
loucos berram pelas ruas.
não estou em montes claros
não estou em são paulo
e em nenhum canto de guarulhos.
meu irmão
ainda não tomei aquele vinho
apenas uma cerveja neste fim de tarde
para aliviar o cansaço
e despoluir meus ouvidos dos berros
aqui ninguém para falar de poesia
para ouvir música
nem para assistir o por do sol.
para que tantas varandas
nesses apartamentos se ninguém aprecia o por do sol?
é poeta, nada fácil.
não estou em montes claros
não estou em são paulo
e em nenhum canto de guarulhos
estou aqui pra dizer que te amo meu irmão.

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