Era um dia de sol, no ano de 1777. Ferreira Leal estava em sua fazenda, descansando em sua rede. Sentia-se cansado e vazio. Não tinha dívidas; as terras eram imensas e ainda não tinha feito nada que valesse a pena, nada que pudesse ser contado, eternizado enfim. As posses eram muitas: uma gleba que se prolongava por longa distância, quase chegando ao arraial das Formigas a um lado e quase se esfregando ao Velho Chico a outro; um punhado de bois e eqüinos e um outro tanto de empregados. Era casado, tinha filhos, mas, ainda assim, sentia-se vazio. Faltava-lhe algo, talvez uma aventura, uma nova paixão... Quiçá alguma boa-ação. Aventura não agüentaria mais, sentia-se velho, cansado, indisposto a uma nova empreitada; A nova paixão o colerizava. Fazia tempos que estava casado, gostava de sua família, amava fielmente a sua esposa. Restou-lhe, portanto, a tal boa-ação; faltava-lhe agora o quê e a quem doar. Era de manhã quando os pensamentos lhe vieram à mente e eis que, depois do almoço, enquanto fazia a sesta, assentado num velho banco de madeira, olhando o imenso pedaço de terra, surge ao longe uma multidão, homens, mulheres e crianças guiados por um velho padre, um senhor baixo, careca, com uma grande e flácida barriga, banhado de suor e já bastante ofegante. Chegam cerimoniosos e o padre se adianta: - Boa tarde, Coronel. Que a paz do Senhor esteja nesta casa! - Boa tarde, vigário. A sua bença. - Nós estamos vindo dos lados da Bahia, fugidos de um grupo de cangaceiros que destruiu toda a nossa comunidade. Será que, pelas bênçãos de Nosso Senhor, o Coronel nos poderia ajudar? E eis que a ideia lhe veio à mente. Era a grande chance de agradar a Deus e tirar aquele aperto do peito. - Olha, seu Vigário. As terras são poucas. Mas talvez eu possa dar um pedaço pra sua gente. - Precisamos também de alguns animais. Os nossos estão cansados, debilitados e, pelo que vi o senhor os possui em grande número. - É. Mas são todos para a lida do dia. Posso dar algumas éguas, pode ser? E para as rezas, tem uma capelinha para aquelas bandas; de lá podem tirar a sua parte. E eis que assim começava a nascer a, hoje, cidade de Coração de Jesus que, segundo o historiador local, Ubirajara Macedo, foi doada pelo senhor Francisco Ferreira Leal UMA LÉGUA DE TERRAS, sendo meia para cada lado da pequena capela, com mais VINTE E CINCO ÉGUAS PARIDEIRAS. E deste ponto até a atualidade são quase cem anos de história. História construída e contada a cada dia por pessoas simples que labutam sob o sol rezando e cantado palavras de fé; sonhando com um futuro melhor em que as terras se multipliquem e dêem frutos e riquezas e uma vida mais digna, assim como sonhava aquele padre e aquela multidão; acabando de vez com o vazio que brotava no âmago do Coronel.
VEJAM MEUS TEXTOS EM www.elismarsantoss.blogspot.com
A ROMÂNTICA HISTÓRIA CORJESUENSE
ResponderExcluirEra um dia de sol, no ano de 1777. Ferreira Leal estava em sua fazenda, descansando em sua rede. Sentia-se cansado e vazio. Não tinha dívidas; as terras eram imensas e ainda não tinha feito nada que valesse a pena, nada que pudesse ser contado, eternizado enfim. As posses eram muitas: uma gleba que se prolongava por longa distância, quase chegando ao arraial das Formigas a um lado e quase se esfregando ao Velho Chico a outro; um punhado de bois e eqüinos e um outro tanto de empregados.
Era casado, tinha filhos, mas, ainda assim, sentia-se vazio. Faltava-lhe algo, talvez uma aventura, uma nova paixão... Quiçá alguma boa-ação. Aventura não agüentaria mais, sentia-se velho, cansado, indisposto a uma nova empreitada; A nova paixão o colerizava. Fazia tempos que estava casado, gostava de sua família, amava fielmente a sua esposa. Restou-lhe, portanto, a tal boa-ação; faltava-lhe agora o quê e a quem doar.
Era de manhã quando os pensamentos lhe vieram à mente e eis que, depois do almoço, enquanto fazia a sesta, assentado num velho banco de madeira, olhando o imenso pedaço de terra, surge ao longe uma multidão, homens, mulheres e crianças guiados por um velho padre, um senhor baixo, careca, com uma grande e flácida barriga, banhado de suor e já bastante ofegante. Chegam cerimoniosos e o padre se adianta:
- Boa tarde, Coronel. Que a paz do Senhor esteja nesta casa!
- Boa tarde, vigário. A sua bença.
- Nós estamos vindo dos lados da Bahia, fugidos de um grupo de cangaceiros que destruiu toda a nossa comunidade. Será que, pelas bênçãos de Nosso Senhor, o Coronel nos poderia ajudar?
E eis que a ideia lhe veio à mente. Era a grande chance de agradar a Deus e tirar aquele aperto do peito.
- Olha, seu Vigário. As terras são poucas. Mas talvez eu possa dar um pedaço pra sua gente.
- Precisamos também de alguns animais. Os nossos estão cansados, debilitados e, pelo que vi o senhor os possui em grande número.
- É. Mas são todos para a lida do dia. Posso dar algumas éguas, pode ser? E para as rezas, tem uma capelinha para aquelas bandas; de lá podem tirar a sua parte.
E eis que assim começava a nascer a, hoje, cidade de Coração de Jesus que, segundo o historiador local, Ubirajara Macedo, foi doada pelo senhor Francisco Ferreira Leal UMA LÉGUA DE TERRAS, sendo meia para cada lado da pequena capela, com mais VINTE E CINCO ÉGUAS PARIDEIRAS. E deste ponto até a atualidade são quase cem anos de história.
História construída e contada a cada dia por pessoas simples que labutam sob o sol rezando e cantado palavras de fé; sonhando com um futuro melhor em que as terras se multipliquem e dêem frutos e riquezas e uma vida mais digna, assim como sonhava aquele padre e aquela multidão; acabando de vez com o vazio que brotava no âmago do Coronel.
VEJAM MEUS TEXTOS EM www.elismarsantoss.blogspot.com
Só pra registrar um abreijo a vc meu irmão.
ResponderExcluircomo estás irmao!
ResponderExcluir