sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

para roberto auad


 

para joão ferreira

 


inteiro

 





para tereza seiblitz

porque sou torto
da alma aos olhos
mineiro sem jeito
pedaço de lua cheia
insatisfeito e sem jeito
passarinho desafinado,
fazendo verão

para mell xavier

sorrisos em descabelo
cabelos em desalinho
panfletos em desespero.
no fim do arco-íris
há pedaços de carvões
para que desenhe,
infinitos

bukowski

metade de mim está bêbado
a outra metade,
logo estará igual
metade de mim, sem jeito
a outra metade, cagando
metade de mim, torto
a outra metade, canhoto
metade de mim, curto
a outra metade, grosso
metade de mim,
deveria estar ao cheiro de tabaco
a outra, deveria...
estar ao perfume de boceta

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

sensibilidade?

ouvir boa música, ir ao teatro, balé, ter muitos quadros em suas paredes, ter uma biblioteca em casa e ter lido grandes obras literárias ou ter muito conhecimento de tudo que seja arte, ou consumir a arte. conhecer a fundo, vida e obra dos grandes gênios da humanidade. ter um belo jardim em seu quintal ou doar dinheiro a entidades que cuida de gente ou animal... sensibilidade está distante de tudo isso. sensibilidade é sentir o outro. é se incomodar com o que fere ou incomoda o outro. sensibilidade é ser ouvidos, ombro e colo. sensibilidade é somar quando alguma situação ou alguém se sente mínima ou nula. sensibilidade é saber quando a situação pede silêncio ou mesmo um nervoso palavrão. sensibilidade é cuidar de uma dor que não seja sua. é secar as lágrimas que não sejam as dos seus olhos. sensibilidade é a atitude que não seja em seu benefício. sensibilidade é pedir para outros o que precisa até mesmo para você.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

taiobas

(para dona tereza & outras terezas)

me lembro das suas lutas
da origem das suas rugas
debaixo de chuvas, lua, sol
aquelas tantas pilhas de roupas sujas
o seu sorriso diante cada trouxa entregue,
de manhã teríamos pão no café.
me lembro bem dona tereza, tinha quatro anos
lembro com clareza daquele tanque enorme
todo cercado de taiobas, suas paixões
era um quintal de pouca luminosidade,
quase breu.
virava noites lavando roupas,
e comprando livros à prestação

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

COMEÇO, MEIO E SEMPRE

(L em tom de laranja)

tenho para hoje, sonhos
você, primeira e última visão dos dias.
tenho para hoje, flores
você, primavera em meus caminhos.
tenho para hoje, decisão
você, causa do meu querer crescer.
tenho para hoje, motivos
você, eu assoviando sob ladeiras.
tenho para hoje, canção de ninar
você, traumas que não me comem mais.
tenho para hoje, norte
você, porto que me ancoro sem receios.
tenho para hoje, vinho
você, corpo que me queima,
alma que me toma.
para sempre; seus cabelos em meu peito

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Resultado de imagem para coração

uma vaga para quem chegar e transbordar.
direto com o proprietário: não peço referência nem depósito caução

do contrato: atitude, lealdade, princípios, valores, alma. preferência para quem chegar primeiro e admirar a linda lua de hoje, comigo. de mãos dadas.

que essa seja sua última morada









segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

início, meio e sempre (L5)

(L em cinco tons de amarelo)

eu que te espero após a vida
te celebro, nessa e noutras
guardando recordações nos lábios.
presença que não se afasta
nem por morte ou praga pagã
somos a tatuagem no outro
que só olhos divinos enxergam.
não há pedras no meio do caminho
ou mesmo atravancadores,
que me faça desistir
de te reencontrar entre as rosas amarelas
porque as páginas, puídas
passado que não guardo mais.
te espero se preciso for, sem medo
até mesmo depois de lá

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

COMEÇO, MEIO E SEMPRE


(L em cinco letras)

ontem eu vi um casal dançando numa dessas avenidas de gente morta e mansões. era dia. sol nascia. ela vestia botas, uma calça rasgada. uma camisete ocre. ou seria laranja? meu deus, linda. cabelos rente aos ombros. dele não me lembro quase nada. sei que estava de olhos fechados. parecia não acreditar. parecia orar. provavelmente agradecendo a deus. se fosse eu em seu lugar, faria igual; “deus pai, pare o tempo por favor, me permita essa respiração em meu cangote por vidas. passado que não existe, futuro que não sei. então deus, pooorrrrr favorrrrr... que pause esse presente, me entende? se eu acordar e ela não estiver ao meu lado, deus, vou brigar horrores e falar palavrões. a culpa não será minha já que não descido porra nenhuma. primavera está no fim, três dias para acabar e ainda assim, vejo flores brotando. deus, eu vou ter um troço. uma de suas mãos está meu peito. deus, minhas pernas bambas. deus, voltei à aquela criança, de short azul, usando um par de conga, apaixonado...”

domingo, 8 de dezembro de 2019

consciência 52

"ninguém aprisiona ninguém.
alguns que por opção própria,
se aprisiona a presença do outro.
ir ou ficar é uma opção.
eu escolho pelo calabouço
ou por minha liberdade"

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

um + um é + que eles

para pâmela souza


e quando você disser, vou
não vai
vamos
porque as tuas lutas
cabem em minha pele, em minha lágrima
em meu sangue.
eu sou da sua laia
comungo do suor dos seus sonhos
bebo na taça das suas lutas
como no seu prato de pão sem dono.
é claro que eu te amo
quinta filha que não saiu de minhas entranhas
e quando você disser, vamos
não vamos
já estou ao seu lado esquerdo
te carregando em minha íris.
eles levam armas
você, amor
eles são muros
você, pontes
eles passarão
você, passarinho.
te espero dentro do bosque

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

albina; curadora

(em algum momento de 2006)


poeta, maior e mais lindo que o começo é saber quando encerrar o teatro, o filme, a novela, o show, o livro e também capítulos da vida real. 
se ninguém assiste, ouve, lê ou prestigia, apague a luz e vem para casa chupar manga e descansar os seus olhos pidão. deixe a porta aberta, você é um espetáculo à parte.

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

dois de novembro

acontece que eu preciso ir
essa árvore sem sombra
sem frutos, sem flor, sem grama
sem galhos para armar um balanço,
ou fazer um cavalo de pau
que de tão insensível
não percebe e não se meche
diante brisa ou vendaval.
eu preciso ir
geminar. germinar
criar raiz

para joão ferreira

brindemos contra esses tempos estranhos
de heróis banguelas em seus cavalos de pau
cavalos de pau e alados.
caminhando contrários à essas bestas
bestas estranhas alheias
arminhas entre mãos. ou dedos
polegar e indicador virou gozo
para bestas estranhas alheias.
era para falar desse vazio que queima
dessa cidade de gente oca. ou eu?
mas é maior o desgosto com as bestas,
bozo em seus gozos
satanás em seus prazeres

albina, reencontro

era por volta das 02h:40m de uma madrugada de segunda feira. distante de mim já a mais de dois anos, me visitou aquelas horas. albina sempre muito conservada em suas palavras e moderada em suas expressões faciais, nesse início de novo dia falava pelos cotovelos. confesso que ainda não entendi aquele desarranjo. albina e seus cabelos brancos não fechava a boca e falava afoita ora, serena ora. albina de olhos sempre miúdos nesse momento tinha olhos grandes como desses personagens de mangá. albina nunca foi de falar com as mão, nessa hora não economizou em gestos e mãos que pareciam bailarinas pelo ar. ela apontava a mão em direção a alguém e me dizia algo. ia até o marcos, a camila, a karla e ao jhow e, único instante que parava de falar e gesticular, os contemplavam como contemplava a imagem de nossa senhora aparecida. voltava a mim e parecia eufórica. albina tinha cara de felicidade. albina me olhava como que querendo me bater. albina me olhava como que querendo me beijar.

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

fome de pessoas inteiras

a sua roupa, perfume, diplomas, carro, turismos, sobrenome e brasão, contracheque, padrinho, casa, quantos idiomas você fala, dotes físicos e financeiros... dane-se! é, dane-se! o que me ganha é como você chega, me toca e me sente. como interage, me toca e me sente. como se inteira, me toca e me sente. como sorri, me toca e me sente. como se senta, se levanta, me toca e me sente. como me olha, me toca e me sente. como soma, me toca e me sente. como chega as minhas pétalas, me toca e me sente... sou rosa amarela disfarçada de humano.

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

AN

para simone faith 
(novembro/2006)


an
que pele é aquela
que me descompassa.
coração pula/pulsa/carnaval
an
que olhos são aqueles
que me prendem nessa mesa
livro em mão que não leio
quando era para ler vacai
me avacalha/ me desorganiza.
que livro ela lê?
an
índia? deusa?
preta, coloca meu nome no seu dedo
esquerdo, anelar?
tomaremos cafés todas as manhãs
te prometo todas as rosas amarelas.
o meu nome em seu dedo esquerdo, anelar
an
como você se chama? canta comigo?
te levo rosas amarelas
te levo o intenso e perdido.
essa noite sua pele visitarei
an
me escolhe para sua alma
me escolhe para a sua varanda.
me escolhe para os teus sonhos
an
me coloque em seu sorriso
me coloque em seus cabelos


_________________________
AN; “Deus do Céu” (Sumério)

terça-feira, 10 de setembro de 2019


sem endereço

vontade imensa de escrever um poema
endereçado para alguém que me leia
além dos pés à cabeça.
que me consuma "in natura"

pulsa esse convite subentendido

dona tereza de montes claros

com dona Tereza eu aprendi sobre gratidão. sobre a importância e a necessidade de se guarda-la. com dona Tereza aprendi que favor não se paga com favor. que se alguém lhe faz uma generosidade e você fazendo outras dez generosidades, o momento generoso do outro continuará a existir assim como a gratidão por aquele momento. a gratidão não se paga e sim, se propaga.
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terça-feira, 14 de maio de 2019

crescimento

para vanessa candido


"quero promover a paz em meus olhos.
promover a paz em minha voz.
promover a paz em meu aceno.
quero promover a paz em meu sorriso.
com isso, talvez eu consiga levar
a paz em outros sorrisos,
em outros olhares e outros acenos"

...

domingo, 5 de maio de 2019

quem sabe vira

sabe dessas vontades
olhos nos olhos
dedo de prosa
taça de vinho
cabeça no colo
beijo no beijo
mãos inquietas
e nada mais além disso?
ali, largados e sem relógios
então lhe deixo claro desde já,
quando eu te encontrar
esses desejos não passarão em branco.
hoje acordei assim, frouxo, dengoso
cheio de novelas para o sono chegar

segunda-feira, 29 de abril de 2019

permanganato de potássio

para ana maria silva matias 

coração magoado não enfarta
quem mata é fome, acidente, doença
toda dor tem prazo para existir
fé se renova. esperança descansa
recordações duram um sol
guardamos quem nos fez bem
inteiramos em lábios, mãos, olhos
são almas que ficam nos retratos
dito isso; sempre venceremos o kaus.
coração revestido de aço
proteção contra os amores fracos

para simples

sou desses olhos insanos
que procura entre aqui e ali
inteiros
sou de quem não se contenta
de quem não fica no muro
sou das pontes
não de quem constrói muros
sou da puta que pariu
nunca da santa do pau oco
sou do curto e singelo
de quem luta contra o grosso
sou das minorias
de quem não é maioria
sou mesmo é de qualquer um
que não seja de todos
beibi, sou de copo sujo
nunca de missans & convenções
sou de quem de quem acredita
que 1 + 1 é sempre mais que dois
rani beibi, lembre-se, quando sair
deixe os seus cabelos espalhados

domingo, 28 de abril de 2019

the doors para a estrada

para gilder souza de moraes

em minha frente uma longa estrada
sem endereço qualquer me esperando
meu Deus, o que me espera do outro lado?
onde estão os ipês amarelos
sempre rentes a margem do caminho?
como caminhar? seguir sem ipês?
é verão. meu Deus [é verão]
seguir sem o amarelo do seus cachos?
não sobreviveu a paisagem verde
que via pela janela do meu carro
me acompanhando por todo o percurso
vejo nuvens espalhadas, sem formas
que não me lembram nada. meu Deus,
nem as nuvens sobreviveram
não contarei mais carneirinhos
declaro morto então, os sonhos
Deus, que história é essa de hoje
de estrada sem ipês amarelos?
Deus, eu não sou daltônico
Deus, tenho medo de viajar
sem ver os meus ipês amarelos
pode então por favor, repintar
essa estrada num outro tom bem quente?
eu quero de volta os meus ipês
em toda a margem do meu caminho
ou isso ou paro aqui, sento e choro
não sei sonhar sem o meu cavalo de pau
sem os meus ipês amarelos

terça-feira, 23 de abril de 2019

sonho placebo

então penso; onde estão os seus olhos agora?
sou aquele diabo travestido de guerra
até encontrar os seus olhos
eu sou raul g em constelação
um poema de mário q
o menino sentado sonhando tim m
também sou canção do humberto g
sou esse casulo de sete cores. me entenda
ou não conseguirei chegar aí. entenda
não sairei daqui morto. subentenda
ouça. ou tente. te levo rosas amarelas
me diga antes o seu nome
com você cantarei para as abelhas
dançarei para as borboletas
entre bailes, serei corpo junto aos beija-flores.
me entenda.
não há fim em minha caminhada
me entenda. não falo de delírio
chegar onde os seus olhos estão,
sonho placebo

domingo, 21 de abril de 2019

hoje

...ando tão a flor da pétala

LETARGIA LE|O|ZEIRA

faltando alguns minutos
para alguma hora qualquer
entre uma carreira que me tenta
e a vodka que me água a boca
resisto na imagem dos seus lábios
que desenho na névoa desse copo puro malte.
entre sua vagina e os seus cabelos
mistérios que me interessam
vem a sua alma que me completa.
menina dos meus olhos debaixo da roseira amarela
não é apenas a sua carne que me tesa
me completa mesmo, inteiro
fazendo desse maldito um menino
é essa sua boca suja e santa
que antes, durante e depois das trepadas
me diz as verdades mais certeiras.
soco no estômago
hora dói,
nessas metades, nesses inteiros
hoje e amanhãs
seus cabelos anelados me conduzem

cenário

ave procurando um céu azul

(para márcia flor)

quando a noite chega
algo floresce sem medo
qualquer canto é castelo
para se vencer vazios, tristezas...
no silêncio do céu noturno
existe todos os encantos

completude

é suficiente o seu olhar

para que a tristeza em mim

pule de alegria

as vezes nunca

as vezes não sinto saudade de casa. as vezes não sinto você me chamando de “preto”. as vezes não sinto o seu colo. as vezes não sinto o seu cheiro. as vezes não sinto o seu toque. as vezes não vejo os montes claros. as vezes esqueço o caminho. as vezes o seu rosto me foge dos olhos. as vezes não me lembro do banco da praça. as vezes me esqueço da sua canção de ninar. as vezes me esqueço da sua canção de me ninar menino grande. as vezes me esqueço daquele beijo na minha chegada. as vezes me esqueço daquele beijo na minha saída. as vezes me esqueço dos seus sermões. as vezes me esqueço de quando enterrei uma. as vezes me esqueço de quando enterrei a outra. as vezes esqueço o meu luto. as vezes esqueço o meu próprio velório. as vezes me esqueço do nosso prato preferido. as vezes me esqueço da nossa canção preferida. as vezes me esqueço do nosso poema perfeito. as vezes esqueço as ruas que andamos de mãos dadas. as vezes me esqueço das casas que moramos, alugadas. as vezes me esqueço da única vez que você me chamou de papai. as vezes me esqueço das vezes que me chamou de meu filho. as vezes me esqueço do seu sorriso banguela. as vezes me esqueço do outro sorriso banguela. as vezes esqueço do nosso choro compartilhado. as vezes me esqueço dos nossos natais. as vezes me esqueço dos seus aniversários. as vezes me esqueço do dia das mães. as vezes me esqueço do dia dos pais que não celebramos. as vezes me esqueço de eu criança doente e você sem dormir me cuidando. as vezes eu me esqueço das suas lágrimas me ensinando. as vezes não choro.
as vezes eu esqueço de carregar um lenço.
as vezes eu tenho que interromper um poema.

(para mavot sirc)

gosto de tudo que me inquieta
da moça sem papas na língua
que me questiona sempre que vacilo
gosto de gente assim;
insatisfeita com os arredores.
gosto de gente que não se contenta;
com o umbigo
com a maioria
com tudo que não soma.
gosto de gente assim;
bebo todas ou não bebo nada
nunca se acovarda e sobre o muro
se esconde no “bebo socialmente”.
gosto de gente que come quando gosta.
gosto de gente inteira
metade é coisa do capeta.
gosto de gente que,
olhando para ele e antes de me falar
já ouço um “vai pra puta que pariu”.
gosto de gente que me come, me devora
nunca de gente que me suporta
me estupra, me abraça e vai embora.
gosto de quem me solavanca e,
em seguida me beija.
não gosto de quem me beija e em seguida,
me espanca.
gosto de gente oito ou oitenta

à saber

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sincericídio

para augusto cesar gonzaga


navalha na carne não dói
não incomoda. não deixa cicatriz
meu pulso esquerdo é prova disso.
incômodo é navalha na alma
faxina de dentro para fora
dor mesmo é olhar para trás
sentir vontade de trocar
dedicatórias de alguns poemas.
fraqueza não está para álcool,
psicotrópicos
fraqueza está no abstêmio
escrever para quem não lê
cantar para quem não senti
sonhar com quem não olha
para o céu
desejar quem renega a alma.
a mensagem reflete a pessoa
leio, guardo
ou arquivo na próxima lata de lixo
pérolas são pérolas
porcos são porcos
se não faz oinc,
fuja.
o arco-íris não é pote de ouro
só é alma quem enxerga nele
poemas

coragem


pétala


pão


quarta-feira, 27 de março de 2019

temperatura


carta para os meus amores

(para maíni, ana clara, ana victória, ana flor, ítalo e luã


neste dia de terça feira, numa cidade de mato grosso e sombras longas, sem saber que horas são e que horas serão amanhã quando eu acordar, meus olhos tristes choram de tristeza por não ter vocês diante eles enquanto os meus lábios e rosto querem beijar e sentir os teus beijos. meus amores que me fazem imortais, isso acontece todos os dias e noites. é claro que eu os amo. é claro que eu os quero e, enquanto não estou com vocês ao meu lado, carrego vocês em meus olhos e em meu coração enquanto a minha alma está cheia do cheiro e das suas presenças. eu estou distante meus amores mas não me sintam ausente mesmo que eu tenha me perdido no tempo. quero demais poder beijar vocês todos os dias. e beijo. e beijei hoje enquanto por quase duas horas me deitei embaixo de uma gameleira. a sombra era imensa e parece que queria competir em tamanho com a minha saudade de vocês. beijei muito. beijei minhas moças-flores lindas e meus moços-doces lindos. em cada beijo que lhes dava, eu ensaiava um pedido de perdão, personalizado, a cada um de vocês. personalizado porque com cada um eu falhei num momento e numa situação. amores, falhei também nesse ensaio sobre a sombra da gameleira pois meus medos, receios e fantasmas ainda me vencem. por hora. 
amores, eu ainda não desisti. não desisti dos seus beijos, dos seus abraços e dos seus carinhos. ainda não desisti de encontra-los e em completude, ama-los. ainda não desisti de crescer por dentro mesmo que os janeiros, as lutas e as decepções me desmotivem. a gameleira me deu sombra por quase duas horas e, momento de releituras, tive vergonha de ser eu. não que eu seja mal ou ruim. não que eu seja um caso perdido ou desesperançado. não que eu não seja capaz disso e daquilo. tive vergonha de ser eu quanto ausente em suas vidas e ciente, de tanto amor, não ter materializado tantos momentos que sempre desejei para nós. é claro que eu os amo. e amo demais. amo grande, imenso, completo... mesmo eu estando vazio. por hora. meus amores, tem um homem aqui que dia e noite trava suas lutas internas, vence alguns fantasmas e para amanhã muitas lutas com outros e, ainda assim, pensa em vocês todos os santos dias de homem pecador e fraco. minha vida continua sendo escola e, um dia eu aprendo, passo de série e num outro dia, eu reprovo. continuo a amar vocês inteiramente mesmo nesses dias que eu reprovo. nova escola. nova turma. novas oportunidades. caminho assim meus amores, perdido entre minha alma e minha carne, sempre ansioso e medroso pelo amanhã, sabendo que ao acordar vocês não estarão nesse novo dia. 
o meu coração se divide todos os dias entre são paulo e montes claros. montes claros de maíni, ítalo, luã e ana clara. são paulo de ana flor e ana victória. 
entre essas minhas lutas e sonhos, ouso pedir a deus para que vocês se encontrem, se amem e se completem. sem medo ou mágoas, se chamem de irmãos. porque vocês são irmãos, sempre serão mesmo que alguém possam lhes soprar que não. vocês são irmãos e todos concebidos no que existe de mais divino no amor, no querer. 
amores, amanhã ao acordar eu irei antes de tudo, me lembrar de vocês. dos seus nomes, dos seus rostos, da suas luzes e dos seus lábios. me lembrarei das suas peles e das suas mãos em meu rosto. mesmo que eu não acorde, me lembrarei. sempre. aqui ou lá. 
meus amores. 

papai

domingo, 24 de março de 2019

com esses pés algema nenhuma me prende. corda nenhuma me amarra. veneno nenhum me consome. olhar nenhum me derruba. escravidão nenhuma me toma. para esses pés só há tempo para descobrir, inventar, prosseguir e renovar. esqueci. não são pés. são recomeços


domingo, 17 de março de 2019

esse tempo para escrever

em noites em que não estou contigo
em dias que não lhe tenho
continuo a escrever
quando muitos já teriam desistido.
qualquer papel em branco
traz a mim todo o seu perfume
a sua pele e o seu gosto.
sem premeditar, um poema surge.
vazio apenas quando caneta ou lápis
não se encontra em minha mão.
escrevo e,
sinto o meu nariz, língua e lábios
entre os seus seios
seus mamilos a me roçar o rosto
ou a brincar entre os meus dentes.
caneta e papel qualquer, fértil
oportunidade de fazer amor,
de novo, contigo.
oportunidade de ter o seu sexo
devorando o meu sexo.
quando e enquanto escrevo
não estou só. não sinto frio
a saudade cede lugar para a sua presença.
egoísta sim e tranquilo pois,
quando escrevo tenho você para mim
só para mim, de novo.
enquanto escrevo olho o espelho
vejo a sua cara feliz e assustada
com esse poeta tarado
por você. e apenas por você.
enquanto escrevo,
desenho os momentos que vivemos
os momentos que não tivemos.
desenho você pela eternidade ao meu lado.
enquanto a caneta é o par do papel
não sou o seu herói. somos o par
entre o divino e o profano.
meu amor, é por isso que escrevo

terça-feira, 12 de março de 2019

a curva

para lúcia barbosa


retas nunca me excitam, seja na vida ou em rodovias. retas me remetem as mesmice e logo meus olhos cansam e pouca coisa descubro ou aprendo. tenho por curvas o carinho que tinha pelas professoras do primário, quando a mesmice nunca existia. as curvas são escolas. são professoras. o que vem depois da curva? depois da curva vem todas as oportunidades, todas as aprendizagens. depois da curva vem sorrisos, vem amigos, vem um novo filme num novo cinema. depois da curva vem aquela carta que o carteiro esqueceu perdida em sua sacola e não te entregou na data prevista mas que te faz um bem enorme receber e ler, mesmo depois de tantos dias corridos. depois da curva eu descubro uma nova samambaia e uma outra borboleta. depois da curva vem sempre um sol amarelo ou uma garoa que amansa as dores. depois da curva, se me canso, sento, olho o céu azul e outra possibilidade de me levantar surge com outras mãos me reerguendo. depois da curva tem sempre deus me esperando com aquele sorriso de orelha a orelha, generoso e gratuito que só ele tem. depois da curva descubro outras cores e outros tons de laranja que tão bem me faz. depois da curva sempre me renovo, pois descubro os meus fracos acontecidos pelas retas. depois da curva minha alma cresce, mesmo que as retas tenham sido nubladas e chorosas. depois das curvas, me torno um aluno melhor da vida. a curva não me assusta, não me amedronta e não me faz perder a fé. curvas são novos eus. mais bonito, mais inteiro e mais humano.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

23h:59m

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revelação

[para tereza seiblitz]

uma borboleta ainda a pouco
pousou em meu ombro esquerdo
ficou lá por dois segundos,
alguns dirão; pouco tempo
tempo suficiente para me dizer
você precisa voar tereza

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

ingenuidade

eu sou quase assim,
romântico
só um pouco mais vagabundo
quero estar escrito no seu olhar
inserido em sua pele negra
e criança sem infância que sou
de nulas lembranças
brincar nestas curvas e vulva
percurso de 1.60
hoje, seus cabelos me conduzem

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

frente a casa onde você nunca morou

(para márcia regina flor)

nesse nosso cinema mudo
eu falando português, você alemão
passei hoje próximo a sua casa
não te vi debruçada sobre a janela
me esqueci. você mora na alemanha
enquanto, do lado de cá
me perco de mim mesmo.
é claro que eu te busco por aqui
em outros rostos, em outros corpos
em outras vozes mesmo que agudas
saudade dessa sua voz rouca.
saudade desse seu corpo grande
sobre o meu. o meu encanto
eu suspirando ouvindo tim maia
me esperançando naquela esquina
onde ainda não nos encontramos.
posso te esperar lá, amanhã, às 22 horas?
pena que a alemanha fica tão longe
pena que você não fala português
que eu não fale alemão
ficamos assim então;
ouvimos tim maia, entrelaçadas as mãos

domingo, 24 de fevereiro de 2019

o calabouço

(para marília martins)


o teatro tatuado na sola do pé
primeiro me fez correr, não era medo
meu deus, não era medo
é que não me dizia nada
ela achando que aquilo dizia tudo
sem solução. sim? não?
cabe tudo numa mão em concha
tudo que havia dentro dela.
havia um grito na esquina, ela surda
havia um grito na esquina, ela surda
nenhuma cama era muito. ou pouco
era nada
a tatuagem em sua sola não dizia nada
simples assim. como sua alma
ou sua cara de desdém na feira da madrugada
foi testemunhado na placa da esquina
“ali ninguém se completa
em seus olhos, umbigo
em seus seios, umbigo
em sua bunda quadrada, umbigo
em sua vagina seca, umbigo
nas palmas de suas mãos, umbigo”
tem uma cobra no meu telhado.
os seus cabelos não me levarão a lugar nenhum

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

inquietudes e outras porras

(para idalécio ferreira)


para os cigarros que não fumei
para as transas que não aconteceram
para as alucinações alcoólicas
e os seus comas
que nunca me acompanharam
01 primeiro poema por um vinho
poderia ser as transas, ou as tramas
ou as moças nuas nessa cama
mas não/ tinha que ser o vinho
bukowski era o gozo feminino
o efeito do porre antes,
durante e depois dos poemas
(já sinto o rosto queimando)
eu/bukouski, em comum
frye’s
nenhum outro tema
frye’s frye’s frye’s
ou o 5º dos infernus?
01 outro copo de vinho
(já vejo a minha cara vermelha)
01 drinque a morte da bezerra
e choro. e choro. e choro
bukowski – um ex pau duro
01 lenço ao lado, sujo
(vejo o meu irmão gêmeo no espelho)
não estou em são paulo
estou nesse poema de paraquedas
para falar de bukowski
já que não me resta mais vinho
nem tabaco, nem bocetas
(já sinto o corpo tremer – não é gozo)
pena

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

parapeito

deixa eu te falar,
estou aqui, rente a janela
segundo andar, olhando o céu
estranhamente não vejo estrelas
também não vejo nuvens
calçado com os velhos chinelos
de couro, franciscanas, tomando café
num velho copo de plástico amarelo
ouvindo tim maia, sozinho.
deixa eu te falar,
sem sina, sem rumo
prumo é o que me queria tereza
sem chance... sem chances
e os sonhos nas mãos em concha?
sem estrela cadente nesse céu pelado
nem a merda de um pedido iludido
nem a garrafa de um vinho vagabundo.
deixa eu te falar, não sei quem é você
não sei onde você está. se existe
não sei porque esse tempo perdido
não lhe escrevo mais nada
se o meu grito é para ninguém

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

coisas de estradas

sinto saudade daqueles beijos
daquele ônibus
destino que não lembro qual era
lembro apenas da ultima poltrona
ao lado do banheiro
que rangeu algumas vezes
madrugada adentro
sinto saudade de são paulo
sinto saudade de guarulhos
sinto saudade de goiânia
sinto saudades de montes claros
o destino não lembro qual era
a minha mão em concha
na concha
enquanto meu lóbulo entre dentes
amanhã outro ônibus me espera

coisas do vinho

sei lá... queria estar apaixonado. saudade de estar casado. de ter uma moça que me abrace silenciosamente enquanto choro de saudade de dona tereza. que me acorde toda manhã e, muito doce e firme me diga; vai trabalhar vagabundo. mas que antes me beije muito. sou dependente de beijos. saudade daqueles beijos inteiros. alguém que esteja do meu lado em todos as tempestades. alguém que me acolha e me resguarde. alguém para ouvir tim maia, zé geraldo e led zeppelin.

tenho cansado de estar só. quase dois anos