domingo, 17 de dezembro de 2017

janeiros

dona tereza dizia que com a idade chegando, eu ficaria mais maleável e flexível. que os janeiros me trariam a calmaria e o sossego na alma. que não teria como eu ser inquieto a vida toda. problemático a vida toda. insatisfeito a vida toda. cricri. dizia que um dia eu me cansaria dessa vida cigana e que o velho ranzinza que há em mim daria lugar ao menino, ao seu cabeça de fubá (cabeça de fubá como me chamava muitas vezes). não sei de onde ela tirava essas esperanças... até os 12 anos eu dormia com ela em sua cama, com o braço direito em volta do pescoço e aos 12 ela me disse que eu ia dormir só pois já estava rapaz. ela caiu do cavalo pois eu pegava o colchão do quarto que eu deveria dormir e arrastava até o quarto dela e colocava ao lado da cama dela, no chão. todas as noites. ela conversando com bia, minha irmã e eu fingia dormir. ela deitada e com a mão acariciando os meus cabelos, dizia; _quem esse mininu puxou? porque ele é tão desassossegado? (ela queria era dizer; porque ele é tão problemático? rsrs). sempre que eu aparecia com alguma namorada (cinco que tive) ela se enchia de esperança como se aquela fosse me apaziguar a alma, me ajudar a ser uma pessoa melhor e mais calma, feliz, em paz...

mais de 40 janeiros passaram. dona tereza morreu sem me ver melhor e organizado. equilibrado e tranquilo. eu continuo impaciente, inquieto, explosivo, mal humorado, ranzinza, desorganizado, irresponsável, explosivo... as porras dos janeiros melhora quase todo mundo. menos eu

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