dona
tereza dizia que com a idade chegando, eu ficaria mais maleável e flexível. que
os janeiros me trariam a calmaria e o sossego na alma. que não teria como eu
ser inquieto a vida toda. problemático a vida toda. insatisfeito a vida toda.
cricri. dizia que um dia eu me cansaria dessa vida cigana e que o velho
ranzinza que há em mim daria lugar ao menino, ao seu cabeça de fubá (cabeça de fubá
como me chamava muitas vezes). não sei de onde ela tirava essas esperanças...
até os 12 anos eu dormia com ela em sua cama, com o braço direito em volta do
pescoço e aos 12 ela me disse que eu ia dormir só pois já estava rapaz. ela
caiu do cavalo pois eu pegava o colchão do quarto que eu deveria dormir e
arrastava até o quarto dela e colocava ao lado da cama dela, no chão. todas as
noites. ela conversando com bia, minha irmã e eu fingia dormir. ela deitada e
com a mão acariciando os meus cabelos, dizia; _quem esse mininu puxou? porque
ele é tão desassossegado? (ela queria era dizer; porque ele é tão problemático?
rsrs). sempre que eu aparecia com alguma namorada (cinco que tive) ela se
enchia de esperança como se aquela fosse me apaziguar a alma, me ajudar a ser
uma pessoa melhor e mais calma, feliz, em paz...
mais
de 40 janeiros passaram. dona tereza morreu sem me ver melhor e organizado.
equilibrado e tranquilo. eu continuo impaciente, inquieto, explosivo, mal
humorado, ranzinza, desorganizado, irresponsável, explosivo... as porras dos
janeiros melhora quase todo mundo. menos eu
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