segunda-feira, 24 de agosto de 2015

amarelinha

a pedra no meio do caminho
é passa tempo
obstáculo é a solidão que me acompanha
pelo meu caminho inteiro

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Mercado editorial e autores...


Mercado editorial e autores, a árdua batalha da publicação.

Muito antes de ser um aprendiz de editor, sou escritor e conheço na pele a propriedade da batalha que é publicar um livro. Conheço a fundo a decepção dos "nãos" e o bater da porta de tantos editores e editoras. De ontem para hoje estive acompanhando algumas postagens se referindo justamente a esse tema aqui no Linkedin. O mercado editorial é o mais cruel entre todos as atividades empresariais, correm tantos riscos os editores, autores e também leitores pois diante da dificuldade que é publicar, tantas obras maravilhosas acabam sendo engavetas e esquecidas. O mercado foi humanizado e socializado com o surgimento do "on demand" ou "sob demanda" na tradução da nossa linda língua portuguesa. Falarei do "sob demanda" um pouco mais a frente.  

Creio que 85% de todos os livros negociados sejam em grandes redes ou consumidos por programas do governo são publicados por no máximo 5 editoras e distribuídos por 3 ou 4 grandes empresas da área. Nessa rede de publicação, distribuição e comercialização, o único a não correr os riscos são os distribuidores, no máximo a menor das despesas que é a entrega e o recolhimento  mas como já tem o compromisso das entregas dos livros ditos comerciais, os recém chegados ao mercado, autores e títulos, não agregam uma despesa considerável e são os menores entre os fardos. As grandes editoras consomem quase que a totalidade das verbas federais e outras, para aquisição de títulos e nessa batalha os lobistas (agenciadores) são fundamentais. As pequenas editoras salvo casos poucos, não conseguem vender. Livros não vendidos são prejuízos 100%. Todo o processo de editoração, gráfico, registros e pequenas taxas são assumidos pelas editoras. Um livro hoje numa "tiragem de risco" de 2.000 exemplares para pesquisa e apresentação no mercado, num bom trabalho gráfico pode chegar ao custo de R$12.000,00 apenas em sua produção, incluindo nesse valor custos com logística e divulgação. Valor consideravelmente alto, se uma editora perder em dez apostas em um ano, serão pelo menos R$100.000,00 reais perdidos. Uma fábula esse valor, perda que uma pequena editora não conseguirá absorver. 

O autor muitas vezes fica refém das editoras quando fazem esses contratos de 24 meses ou mais, com uma margem de lucros que pode chegar ou passar um pouco mais os 14% mas sempre na dúvida de; "será que vendi só esses 14 exemplares de fato ou estou sendo lesado?" Autores recém-ingressos nas publicações estarão sempre à margem dos riscos e das dúvidas. Fato. 

Meu primeiro livro publiquei de forma independente em setembro de 1998 depois de ouvir sonoros nãos de editoras, uma queria um contrato de 24 meses e com 11% de comissão, porém queria que eu alterasse algumas expressões do livro e que recusei pois é a minha identidade ali, aliada a minha proposta da oralidade e da plástica. Sou um poeta que passeio entre o beat, o marginal e o concreto, jamais aceitaria tal sugestão. Ainda sofremos essa batalha que é a imposição aos iniciantes por parte de alguns editores. Consegui recuperar com muito trabalho 80% do valor investido. Dos meus 04 títulos publicados, apenas um me trouxe uma razoável rentabilidade.  Um foi uma troca de seis por meia dúzia. Dois eu perdi pouco. Sou cauteloso com o sistema "sob demanda", mas ainda assim considero como uma ferramenta de humanização para a realização do autor. Publicar para mim é humanizar. Sempre oriento os autores que me procuram para publicar nesse formato a terem muita cautela e sempre pergunto, irá usar cartão de crédito ou possui o capital? Sempre oriento a NUNCA criarem gastos acreditando que irão recuperar o investimento através da venda de exemplares. Um risco enorme e a maior probabilidade é que não irá conseguir cobrir os custos com as vendagens boca a boca. Quem tem renda pouca e paga prestações como aluguel, consórcio e outros gastos, evitem esses riscos ou irão tirar da boca para cobrir os custos do seu livro caso não tenha uma reserva. Se o autor ainda assim deseja fazer o seu livro de forma independente e pensa em gastar algo em torno de R$5.000,00 eu sugiro a cautela e invista no máximo R$3.000,00 e faça uma poupança com o valor restante. Exceto para quem possui a certeza que irá vender muitos exemplares, certeza que eu nunca tenho em relação aos meus livros. Pensando em tiragem de 1.000 exemplares? Faça 500 exemplares e vendendo tudo, solicite uma reimpressão. Pensando em 500 exemplares? Faça 300. A cautela é a maior recomendação nesse mercado cruel e concentrado em poucas editoras e poucos autores.

Se o seu livro não fala de vampiros, zumbis e não tenham muito sexo e futilidade, as possibilidades da sua obra ficar encalhada são enormes. Que fique claro, não escrevo com a intenção de desanimar e desmotivar as publicações independentes, sim, como autor compartilhar com as cautelas. Nicolas Bher, poeta genial de Brasília-DF conseguiu vender mais de 8.000 exemplares de um dos seus livros independentes assim como também o poeta Rogério Salgado, de Belo Horizonte-MG vem desenvolvendo um belo trabalho independente já por vários anos, mas a luta é dolorosa, exaustiva e que pede toda a dedicação.

Traz muito prazer, pede muita serenidade.