Mercado editorial e autores, a árdua batalha da publicação.
Muito antes de ser um aprendiz de
editor, sou escritor e conheço na pele a propriedade da batalha que é publicar
um livro. Conheço a fundo a decepção dos "nãos" e o bater da porta de
tantos editores e editoras. De ontem para hoje estive acompanhando algumas
postagens se referindo justamente a esse tema aqui no Linkedin. O mercado
editorial é o mais cruel entre todos as atividades empresariais, correm tantos
riscos os editores, autores e também leitores pois diante da dificuldade que é
publicar, tantas obras maravilhosas acabam sendo engavetas e esquecidas. O mercado foi
humanizado e socializado com o surgimento do "on demand" ou "sob
demanda" na tradução da nossa linda língua portuguesa. Falarei do "sob
demanda" um pouco mais a frente.
Creio que 85% de todos os livros
negociados sejam em grandes redes ou consumidos por programas do governo são
publicados por no máximo 5 editoras e distribuídos por 3 ou 4 grandes empresas
da área. Nessa rede de publicação, distribuição e comercialização, o único a
não correr os riscos são os distribuidores, no máximo a menor das despesas que
é a entrega e o recolhimento mas como já tem o compromisso das entregas
dos livros ditos comerciais, os recém chegados ao mercado,
autores e títulos, não agregam uma despesa considerável e são os menores entre
os fardos. As grandes editoras consomem quase que a totalidade das verbas
federais e outras, para aquisição de títulos e nessa batalha os lobistas
(agenciadores) são fundamentais. As pequenas editoras salvo casos poucos, não
conseguem vender. Livros não vendidos são prejuízos 100%. Todo o processo de
editoração, gráfico, registros e pequenas taxas são assumidos pelas editoras.
Um livro hoje numa "tiragem de risco" de 2.000 exemplares
para pesquisa e apresentação no mercado, num bom trabalho gráfico pode chegar
ao custo de R$12.000,00 apenas em sua produção, incluindo nesse valor custos
com logística e divulgação. Valor consideravelmente alto, se uma editora perder
em dez apostas em um ano, serão pelo menos R$100.000,00 reais perdidos. Uma
fábula esse valor, perda que uma pequena editora não conseguirá absorver.
O autor muitas vezes fica refém
das editoras quando fazem esses contratos de 24 meses ou mais, com uma margem
de lucros que pode chegar ou passar um pouco mais os 14% mas sempre na dúvida
de; "será que vendi só esses 14 exemplares de fato ou estou sendo
lesado?" Autores recém-ingressos nas publicações estarão sempre à margem
dos riscos e das dúvidas. Fato.
Meu primeiro livro publiquei de
forma independente em setembro de 1998 depois de ouvir sonoros nãos de
editoras, uma queria um contrato de 24 meses e com 11% de comissão, porém queria
que eu alterasse algumas expressões do livro e que recusei pois é a minha
identidade ali, aliada a minha proposta da oralidade e da plástica. Sou um
poeta que passeio entre o beat, o marginal e o concreto, jamais aceitaria tal
sugestão. Ainda sofremos essa batalha que é a imposição aos iniciantes por
parte de alguns editores. Consegui recuperar com muito trabalho 80% do valor
investido. Dos meus 04 títulos publicados, apenas um me trouxe uma razoável
rentabilidade. Um foi uma troca de seis por meia
dúzia. Dois eu perdi
pouco. Sou cauteloso com o sistema "sob demanda", mas ainda assim
considero como uma ferramenta de humanização para a realização do autor. Publicar
para mim é humanizar. Sempre oriento os autores que me procuram para publicar
nesse formato a terem muita cautela e sempre pergunto, irá usar cartão de
crédito ou possui o capital? Sempre oriento a NUNCA criarem gastos acreditando
que irão recuperar o investimento através da venda de exemplares. Um risco
enorme e a maior probabilidade é que não irá conseguir cobrir os custos com as
vendagens boca a boca. Quem tem renda pouca e paga prestações como aluguel,
consórcio e outros gastos, evitem esses riscos ou irão tirar da boca para
cobrir os custos do seu livro caso não tenha uma reserva. Se o autor ainda
assim deseja fazer o seu livro de forma independente e pensa em gastar algo em
torno de R$5.000,00 eu sugiro a cautela e invista no máximo R$3.000,00 e faça
uma poupança com o valor restante. Exceto para quem possui a certeza que irá
vender muitos exemplares, certeza que eu nunca tenho em relação aos meus
livros. Pensando em tiragem de 1.000 exemplares? Faça 500 exemplares e vendendo
tudo, solicite uma reimpressão. Pensando em 500 exemplares? Faça 300. A cautela
é a maior recomendação nesse mercado cruel
e concentrado em poucas editoras e poucos autores.
Se o seu livro não fala de
vampiros, zumbis e não tenham muito sexo e futilidade, as possibilidades da sua
obra ficar encalhada são enormes. Que fique claro, não escrevo com a intenção
de desanimar e desmotivar as publicações independentes, sim, como autor
compartilhar com as cautelas. Nicolas Bher, poeta genial de Brasília-DF
conseguiu vender mais de 8.000 exemplares de um dos seus livros independentes
assim como também o poeta Rogério Salgado, de Belo Horizonte-MG vem
desenvolvendo um belo trabalho independente já por vários anos, mas a luta é
dolorosa, exaustiva e que pede toda a dedicação.
Traz muito prazer, pede muita
serenidade.
Fale amigo.
ResponderExcluirBom te reencontrar nas palavras.
Brinco com a palavra, esculpindo sentimentos.
Ainda tenho um Blog, com valor sentimental, aonde depositei choros e alegrias, aonde expus arrepios e paixões.
Um blog sem visitas, tive umas 15000 visualizações, em quase dez anos.
Colecionei trinta e poucos seguidores, que não seguem.
Via face, alguns cobram um livro, mas tenho a certeza que falam por falar.
Mas na poesia vivo, são cerca de 600 publicações no blog.
Virou uma rotina falar sozinho.
um vício da solidão. Abraço.