sábado, 8 de dezembro de 2012

ficção


o meu rádio quebrado amanheceu
com saudade das nossa canções de ontem
cd’s piratas que faziam seus cabelos anelados voarem
hoje não emocionam
nem aquele outro  fio largado no canto do lençol.
porque esse conservado em minha carteira
so me gera a dúvida;
deixa-lo ir com a enxurrada da chuva
ou deixar onde está
já que não incomoda ninguém.
so a mim


sábado, 1 de dezembro de 2012

meia noite para o cinema


estrada que segue
lua que vigia
assovios para fazer companhia
o jazzman na esquina
tereza no coração
montes claros no café da manhã
avenida paulista é uma negra linda
sem reencontro
com o cabelo anelado dos sonhos
um relógio e um canteiro
um isqueiro para aquecer
rivotril para sorrir entre os semáforos
e não desanimar nas faltas de placas
vire a esquerda,
diz o desenho na placa da esquina
nada maior que o tamanho desses passos


sábado, 24 de novembro de 2012

completude


tem gente que sonha em ser herói
eu, sonho em ser humano

feito

(para Eduardo Madureira e Fabio Neves)


você é feito de morro
de cascalho e toá
tem a benção da mão calejada
e corpo tombado para ajudar.
você é feito de sol
tem olhos de telhas trincadas ao luar
tem o longo feixe de luz
traz para perto o infinito.
você é feito de sertão
seu patuá é a sua pele rachada como o meu chão
veio sob o signo do catrumano
não se acaba na primeira estação

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

recado


meu amor além da ponte
amor além de agora
amor do tudo simples
com gosto de manhã ensolarada.
ainda chego
levo planos tortos
e fotos amareladas pelo tempo
de recente não levo nada
os sonhos são antigos
as roupas são puídas
mas chego inteiro
de corpo e alma

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

logo


vou voltar para Montes Claros
de onde eu nunca saí
onde meu amor maior me espera
cabeça de vento, sorriso banguela
volto logo, semana que vem.
vou voltar pra montes claros
onde cada esquina tem um João
de abraços Pereiras
de beijos Almeidas
da Tereza dos meus olhos.
dessas ruas, desse povo
como disse Graciliano em sua hora
montes claros, já sinto saudades 

terça-feira, 6 de novembro de 2012

recordar

tem um cheiro em minha pele
não o do meu dia a dia
cheiro de pele negra
e um fio de cabelo encaracolado em meu peito.
tem uma moça negra em meus olhos
e na palma da mão a textura de ontem
enquanto a língua
guarda a última gota do gozo da manhã
tem uma moça negra no meu lado esquerdo do sonho

domingo, 4 de novembro de 2012

calhamaço


se o meu corpo aguentar
amanhã estarei à mesa com o olhar de hoje
cansado
e dos ontens.
deixo aberto sobre a mesa o livro sagrado
o álbum com retratos dos meus dias
pedras, pedras, pedras
sonhos de cavaleiro sobre cabo de vassoura
peão sem cavalo
solitário grafite sem papel.
coração de toá, terra rachada
sem alforria, confesso do anseio do colo
rebuscado no silêncio dos meus sonhos

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

o que tenho pra hoje


tem dia todo dia que é assim
acordo e vivo o passado
da esquina até a reta a sumir de vista
do início do seu beijo
até as pontas dos seus cabelos.
não que eu faça gosto disso
é o que tenho para ser feliz hoje

terça-feira, 18 de setembro de 2012

a vácuo


é uma vazio que toma
um não querer querer
subir escadas quando não quero nem chegar a porta
ontem que foi hoje e será amanhã
e ouvir que eu construo paredes
é a pior parte dos dias.
pontes sem serventias

sábado, 15 de setembro de 2012

biografia

nasci numa manhã de terça feira
a 10 metros da igreja dos morrinhos em montes claros
dia de são bartolomeu
tereza paria seu 9º em casa

enquanto juscelino era o centro do velório.
nasci torto
da coluna ao pau
olhos caídos de pobre pidão
tereza dos peitos murchos
com 6 meses foi feijão
assim forjado a ferro
do espírito aos colhões

mesmice

esse aperto no peito
não cabe na palma da mão
começa no vazio esquerdo da cama

se completa no silêncio dos anos.
um desenho de ontem, e hoje
no porta retrato de amanhã


regressão

nesses dias dos desencontros
resta lembrar
da flor amarela
frente à igreja dos morrinhos.
era um flor pequena, rasteira
suficiente para ser eterna

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

ave teresa

ave teresa que se lembrou
ave teresa que me ligou no dia seguinte e chorou
ave teresa que 36 anos antes
me levou 09 meses
no útero
no sorriso
nas dores
no seio
nos sonhos.
ave teresa que me abraçou quando falei do meu amor
ave teresa nas suas mãos sempre estendidas
nos seus lábios sempre me oferecidos
ave teresa do olhar acolhedor.
ave teresa quando me deixou ir
ave teresa que sempre me recebeu
ave teresa pelo prato suado
ave teresa que sempre me fez
mesmo com o corpo muito cansado.
ave teresa de aries, ranzinza e arisca
ave teresa do coração maior que as suas dores.
ave teresa de montes claros

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

para dizer que estou voltando

meu amor é de pedra
tem cheiro de concreto
e olhos de moça virgem
é branca, é negra
deixa a vizinhança toda ouriçada
quem nela entra, nela deseja ficar
meu amor tem nome e sobrenome
aí que saudades de Montes Claros

terça-feira, 29 de maio de 2012

porque é fato - os bons irem antes

ficamos orfãos muito jovens. não conheci renato russo pessoalmente, não dei um abraço no tim maia, não fui a nenhum show do queen, não tive um dedo de prosa com a cássia eller, não dancei com igor xavier, não fiz outra viagem com celinho ferreira, não deu tempo de transar com nenhuma das namoradas do gabriel cardoso, não fui entrevistado por reginauro silva, não produzi nada com aline luz...
elthomar santoro, me abandona não meu herói preferido.

ficamos orfãos muito jovens.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

registro

quero registrar o amor não numa folha de papel.
quero registrar o amor nos meus lábios
nas minhas mãos
em meus olhos
na minha pele
nas minhas narinas.

sábado, 18 de fevereiro de 2012