quinta-feira, 31 de outubro de 2019

albina; curadora

(em algum momento de 2006)


poeta, maior e mais lindo que o começo é saber quando encerrar o teatro, o filme, a novela, o show, o livro e também capítulos da vida real. 
se ninguém assiste, ouve, lê ou prestigia, apague a luz e vem para casa chupar manga e descansar os seus olhos pidão. deixe a porta aberta, você é um espetáculo à parte.

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

dois de novembro

acontece que eu preciso ir
essa árvore sem sombra
sem frutos, sem flor, sem grama
sem galhos para armar um balanço,
ou fazer um cavalo de pau
que de tão insensível
não percebe e não se meche
diante brisa ou vendaval.
eu preciso ir
geminar. germinar
criar raiz

para joão ferreira

brindemos contra esses tempos estranhos
de heróis banguelas em seus cavalos de pau
cavalos de pau e alados.
caminhando contrários à essas bestas
bestas estranhas alheias
arminhas entre mãos. ou dedos
polegar e indicador virou gozo
para bestas estranhas alheias.
era para falar desse vazio que queima
dessa cidade de gente oca. ou eu?
mas é maior o desgosto com as bestas,
bozo em seus gozos
satanás em seus prazeres

albina, reencontro

era por volta das 02h:40m de uma madrugada de segunda feira. distante de mim já a mais de dois anos, me visitou aquelas horas. albina sempre muito conservada em suas palavras e moderada em suas expressões faciais, nesse início de novo dia falava pelos cotovelos. confesso que ainda não entendi aquele desarranjo. albina e seus cabelos brancos não fechava a boca e falava afoita ora, serena ora. albina de olhos sempre miúdos nesse momento tinha olhos grandes como desses personagens de mangá. albina nunca foi de falar com as mão, nessa hora não economizou em gestos e mãos que pareciam bailarinas pelo ar. ela apontava a mão em direção a alguém e me dizia algo. ia até o marcos, a camila, a karla e ao jhow e, único instante que parava de falar e gesticular, os contemplavam como contemplava a imagem de nossa senhora aparecida. voltava a mim e parecia eufórica. albina tinha cara de felicidade. albina me olhava como que querendo me bater. albina me olhava como que querendo me beijar.

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

fome de pessoas inteiras

a sua roupa, perfume, diplomas, carro, turismos, sobrenome e brasão, contracheque, padrinho, casa, quantos idiomas você fala, dotes físicos e financeiros... dane-se! é, dane-se! o que me ganha é como você chega, me toca e me sente. como interage, me toca e me sente. como se inteira, me toca e me sente. como sorri, me toca e me sente. como se senta, se levanta, me toca e me sente. como me olha, me toca e me sente. como soma, me toca e me sente. como chega as minhas pétalas, me toca e me sente... sou rosa amarela disfarçada de humano.

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

AN

para simone faith 
(novembro/2006)


an
que pele é aquela
que me descompassa.
coração pula/pulsa/carnaval
an
que olhos são aqueles
que me prendem nessa mesa
livro em mão que não leio
quando era para ler vacai
me avacalha/ me desorganiza.
que livro ela lê?
an
índia? deusa?
preta, coloca meu nome no seu dedo
esquerdo, anelar?
tomaremos cafés todas as manhãs
te prometo todas as rosas amarelas.
o meu nome em seu dedo esquerdo, anelar
an
como você se chama? canta comigo?
te levo rosas amarelas
te levo o intenso e perdido.
essa noite sua pele visitarei
an
me escolhe para sua alma
me escolhe para a sua varanda.
me escolhe para os teus sonhos
an
me coloque em seu sorriso
me coloque em seus cabelos


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AN; “Deus do Céu” (Sumério)