sem
olhar nos meus olhos e depois de algum tempo silenciosa, olhando vagamente para
algum lugar, albina me pergunta com aquela doçura que ninguém mais tem:
_pueta,
se você pudesse voltar lá no passado você mudaria alguma coisa?
sinto
que albina está triste, o que é muito raro. nos poucos momentos em que vi a
albina triste foi sempre quando falava dos filhos que não teve. albina certa
vez até desenhou uma de suas vontades retratando uma mãe fazendo tranças no
cabelo de sua filha. era ela e a criança que não pariu. nesses raros momentos
os seus olhos sempre se cobriam de lágrimas que, com muita força, não rolava
pela face.
_albina
segunda mãe, teria tanta coisa para mudar que uma única mudança em nada
refletiria no que já existi. teria dado aquele beijo que neguei para aquela
negra linda na praça da matriz, só por pirraça. não teria ralhado com a maíni
só porque ela saiu do tapete e foi rastejar pelo chão naquela manhã fria de
junho. teria beijado mais os meus amigos. teria casado numa igreja católica com
algumas das mulheres que amei mesmo eu tendo asco por igrejas, é tão lindo
aquele ritual né albina? tantas coisas...
me
olha e sem nenhuma expressão em seu rosto que possa identificar qual o seu
humor, diz:
_ainda
há tempo, mude o seu gênio e temperamento. guarde a sua língua bem
guardadinha...