quinta-feira, 23 de junho de 2016

albina nº2


sem olhar nos meus olhos e depois de algum tempo silenciosa, olhando vagamente para algum lugar, albina me pergunta com aquela doçura que ninguém mais tem:

_pueta, se você pudesse voltar lá no passado você mudaria alguma coisa?

sinto que albina está triste, o que é muito raro. nos poucos momentos em que vi a albina triste foi sempre quando falava dos filhos que não teve. albina certa vez até desenhou uma de suas vontades retratando uma mãe fazendo tranças no cabelo de sua filha. era ela e a criança que não pariu. nesses raros momentos os seus olhos sempre se cobriam de lágrimas que, com muita força, não rolava pela face.

_albina segunda mãe, teria tanta coisa para mudar que uma única mudança em nada refletiria no que já existi. teria dado aquele beijo que neguei para aquela negra linda na praça da matriz, só por pirraça. não teria ralhado com a maíni só porque ela saiu do tapete e foi rastejar pelo chão naquela manhã fria de junho. teria beijado mais os meus amigos. teria casado numa igreja católica com algumas das mulheres que amei mesmo eu tendo asco por igrejas, é tão lindo aquele ritual né albina? tantas coisas...

me olha e sem nenhuma expressão em seu rosto que possa identificar qual o seu humor, diz:

_ainda há tempo, mude o seu gênio e temperamento. guarde a sua língua bem guardadinha...

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