terça-feira, 12 de março de 2019

a curva

para lúcia barbosa


retas nunca me excitam, seja na vida ou em rodovias. retas me remetem as mesmice e logo meus olhos cansam e pouca coisa descubro ou aprendo. tenho por curvas o carinho que tinha pelas professoras do primário, quando a mesmice nunca existia. as curvas são escolas. são professoras. o que vem depois da curva? depois da curva vem todas as oportunidades, todas as aprendizagens. depois da curva vem sorrisos, vem amigos, vem um novo filme num novo cinema. depois da curva vem aquela carta que o carteiro esqueceu perdida em sua sacola e não te entregou na data prevista mas que te faz um bem enorme receber e ler, mesmo depois de tantos dias corridos. depois da curva eu descubro uma nova samambaia e uma outra borboleta. depois da curva vem sempre um sol amarelo ou uma garoa que amansa as dores. depois da curva, se me canso, sento, olho o céu azul e outra possibilidade de me levantar surge com outras mãos me reerguendo. depois da curva tem sempre deus me esperando com aquele sorriso de orelha a orelha, generoso e gratuito que só ele tem. depois da curva descubro outras cores e outros tons de laranja que tão bem me faz. depois da curva sempre me renovo, pois descubro os meus fracos acontecidos pelas retas. depois da curva minha alma cresce, mesmo que as retas tenham sido nubladas e chorosas. depois das curvas, me torno um aluno melhor da vida. a curva não me assusta, não me amedronta e não me faz perder a fé. curvas são novos eus. mais bonito, mais inteiro e mais humano.

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